“Assim que o usuário de crack dá a primeira tragada, desenvolve uma compulsão imediata pelo consumo, levando-o ao uso ininterrupto, até que o estoque da droga acabe ou ele chegue à exaustão”, explica Tharcila Viana Chaves, farmacêutica e autora do estudo. “Esse tipo de fissura apareceu como forte fator
mantenedor dos episódios de consumo chamados de binge, no qual o uso é prolongado, intenso e contínuo”. De acordo com a pesquisadora, estes episódios foram os maiores responsáveis pelo rebaixamento de valores do usuário,sujeitando-os a práticas não convencionais para a obtenção da droga – como roubar e prostituir-se –e a fortes eventos de agressividade,provenientes da “nóia” (abreviação de paranóia, um efeito típico do crack) ou do receio de que alguém ameace a continuidade do seu consumo do crack.
Os 40 usuários e ex-usuários de crack entrevistados na pesquisa,apesar de terem perdido o controle em várias situações relacionadas à droga, possuem um autoconhecimento que lhes permite controlarem-se em outras ocasiões.Evitar pistas que lembram o uso do crack (como lugares, pessoas e estresse) e que impulsionariam seu uso é apenas uma das estratégias usadas para diminuir a fissura e conseguir trabalhar e conviver socialmente. “Muitos usam de forma concomitante, não apenas o álcool e a maconha, mas
também os benzodiazepínicos,conhecidos como tranqüilizantes,que são conseguidos facilmente no mercado negro e são tidos como moeda de troca na Cracolândia”, afirma a pesquisadora, que acredita que a
existência de medidas do próprio usuário para lidar com a sua fissura por crack pode ser uma ferramenta importante para o aprimoramento de seu tratamento.
Chaves, T.V. A vivência da fissura por crack: rebaixamento de valores e estratégias utilizadas para o controle. Tese de mestrado, UNIFESP,2009, 103 p.
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