quinta-feira, 29 de maio de 2014

Uma análise sistemática sobre a psicologia do homem

Durante três décadas de estudos e prática psicológica e psicoterápica, minha estatística de homens que buscaram tratamento psicoterápico só sai dos vinte por cento se incluirmos crianças e adolescente que são levados pelos pais.
Assim sendo resolvi perguntar: porque os homens não procuram ajuda especializada para tratar seus “problemas” emocionais de toda ordem? As respostas são várias, mas vamos analisar aquelas que nos parecem mais relevantes. 
A questão cultural parece ser a mais marcante, pois vivemos num País  machista e de baixo nível cultural da maioria da população, onde desde criança, os homens, somos condicionados a não sentir ou negar os nossos reais sentimentos. Nossa cultura ocidental e subdesenvolvida persiste em ditar “regras” do tempo de nossos avós, desde um pequeno tombo físico, quando ouvimos dos adultos: “foi só um pulo, homem não chora” até as “quedas emocionais” que experimentamos desde a primeira infância. A maioria dos homens “adultos” tem dificuldade de expor seus verdadeiros sentimentos ou mostrar-se afetivo consigo mesmo e, consequentemente com o próximo. Esta dificuldade inicia-se com a dificuldade que muitos pais têm de abraçar o filho, contribuindo para o aparecimento do machismo. Quase cem por cento de meus pacientes do sexo masculino na faixa etária de 25 a 60 anos mostraram dificuldades de relacionamento afetivo, iniciado na infância com relacionamento paterno (com ou sem a presença física do pai), desenvolvendo um distúrbio de personalidade - Alexitimia: dificuldade de descrever suas emoções e mesmo de senti-las. São homens que desenvolveram o machismo para superar o seu medo da vida, por terem em sua essência (personalidade) traços infantis não resolvidos; mas substituído pelo medo, arrogância, autoritarismo ou vícios. São crianças disfarçadas de adultos. Tornaram-se autoritários e machistas para “encobrir” suas fraquezas, uma forma de compensação, formando uma couraça sobre uma personalidade enfraquecida pelo desamor desenvolvido  na infância, que, embora tenha relação direta com a forma como foram educados, poderia ser trabalhado no momento atual se isso fosse admitido e não projetado cruelmente nos pais, nos filhos, esposas, etc. Lembrando que não podemos mudar nossas experiências passadas; mas podemos mudar nossas atitudes em relação a elas.
Durante o início do tratamento fica evidente a vergonha que os homens sentem em descobrir que sente medo de se expor ao psicólogo/psicoterapeuta, principalmente se o profissional  for do sexo feminino, embora o medo não está exatamente na figura do profissional; mas em retirar a máscara para si mesmo e ter que abandonar aquele falso homem que ele mesmo construiu: “um homem forte” ou sair do “Puer eternus” - a luta do adulto contra o paraíso da infância. Descobrir quem realmente somos não é uma tarefa das mais fáceis, por este motivo é comum que os homens busquem disfarces em “fontes” artificiais como fuga de si mesmo, tais como: álcool, drogas lícitas e ilicítas, sexo “desregrado” ou algum distúrbio nesse campo, em exigir que sua palavra seja a última, no isolamento, incluindo o sexual – compulsão pela masturbação, na insensibilidade disfarçada de vítima, gerando graves crises depressivas. Negação profunda de seus reais sentimentos.
Outra questão, que só confirma a anterior, é o orgulho em admitir que, precisa de ajuda ou que possa ser compreendido e ajudado por uma pessoa mais jovem que ele, muitas vezes. Acredita que as soluções de seus problemas emocionais  só podem ser resolvidas no concreto, influência de sua constituição genética, ou seja, seus reais problemas são real (R$). Embora, sabemos que os problemas concretos (materiais) nascem, em sua maioria, devido a problemas psicoemocionais, elaborar interiormente a relação do abstrato e do concreto.  Tudo que é construído externamente é primeiro elaborado na alma – somos produtos de nossos pensamentos.
Como não poderia acontecer de outra maneira, as consequências do desconhecimento de si mesmo têm levado a graves problemas de toda ordem: separações conjugais, dispensa do trabalho (falta de criatividade ou interesse profissional), disfunções sexuais (ejaculação precoce, impotência e perda do interesse, “homossexualidade”), depressão, sentimento de posse, alcoolismo, etc.. Outro distúrbio, não muito comentado, é o ciúme de homens que amam demais, explorada na novela das oito na Rede Globo, que deu origem à matéria do Popular de 15/07/03 onde alguns corajosos declararam suas fraquezas, embora o ditado popular diz: “quem ama tem ciúmes”. Sabemos que o ciúme é uma fraqueza da alma humana, próprio de pessoas imaturas psiquicamente, que persistem em acreditar na ilusão da posse daquilo que não pode ser possuído:  o outro.
A Psicologia do homem deveria ser mais explorada, mais humanizada e menos mistificada. A cura é o resultado do amor. É uma função do amor. Onde quer que exista amor, existe cura. E onde quer que não exista amor, tem pouco da preciosa - se houver alguma – cura. Paradoxalmente, uma psicologia do homem deve ser uma psicologia do desconhecido. As principais ameaças aos relacionamentos homem/mulher não mais parecem vir da natureza exterior, mas da nossa própria natureza interior. Externalizações de nossos conflitos internos projetados no outro. Enquanto o homem não se conscientizar que dentro dele habita também uma mulher (ânima e ânimus) e, sua ignorância com as mulheres “pode” ser o desejo de matar a “mulher interior”; mas, muitas vezes, em vez de matá-la, coisa impossível, ele faz é acordá-la, pois habita dentro de cada ‘machão’ uma mulher frágil e carente de amor. Já diz o adágio popular: “Quem não deve não teme”. Aquele que nega sua “porção” mulher (ânima) acaba por mostrá-la por inteiro. A resolução desse dilema é um paradoxo. O caminho do autoconhecimento é um equilíbrio dinâmico de opostos, uma dolorosa tensão criativa de incertezas, uma difícil corda bamba entre métodos extremos, porém mais fáceis, de ação. Considere a criação de uma criança. Tolerar todas as suas indisciplinas não é amor. Devemos de algum modo, ser ambos: tolerantes e intolerantes, condescendentes e exigentes, restritos e flexíveis.
Por muito tempo pensei que as pessoas não procuravam psicoterapia por falta de dinheiro e tempo, hoje tenho certeza que é por falta de coragem. Mais mulheres procura psicoterapia não porque tem mais “problemas”; mas porque são, sem dúvida, mais corajosas. Conhecer o outro requer cumplicidade; mas conhecer a si mesmo requer autopermissão e muita coragem. Nem sempre o caminho mais fácil é o caminho correto.  
Finalmente, acredito ser importante acrescentar que, embora os homens não confessem, muitos têm se beneficiado, quando tiram a máscara do machismo, e buscam ajuda a um profissional (psicólogo/psicoterapeuta) devidamente capacitado – a maioria dos homens mente ou omite hábitos que são importantes na terapia e cabe ao profissional buscar a verdade para poder ajudar seu paciente e, juntos, encontrar o melhor caminho para conduzir sua vida (do paciente). Lembrando que o Psicoterapeuta e/ou Psicólogo é apenas um facilitador e jamais pode ser visto como um direcionador ou aquele que resolve os problemas alheios.

(José Geraldo Rabelo, psicólogo holístico, psicoterapeuta espiritualista, parapsicólogo, filósofo clínico, especialista em família, depressão, dependência química e alcoolismo, escritor e palestrante - Emails.: rabelojosegeraldo@yahoo.com.br e/ou rabelosterapeuta@hotmail.com)

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