Durante três décadas de estudos e prática psicológica e
psicoterápica, minha estatística de homens que buscaram tratamento
psicoterápico só sai dos vinte por cento se incluirmos crianças e
adolescente que são levados pelos pais.
Assim sendo resolvi perguntar: porque os homens não procuram
ajuda especializada para tratar seus “problemas” emocionais de toda
ordem? As respostas são várias, mas vamos analisar aquelas que nos
parecem mais relevantes.
A questão cultural parece ser a mais marcante, pois vivemos
num País machista e de baixo nível cultural da maioria da população,
onde desde criança, os homens, somos condicionados a não sentir ou negar
os nossos reais sentimentos. Nossa cultura ocidental e subdesenvolvida
persiste em ditar “regras” do tempo de nossos avós, desde um pequeno
tombo físico, quando ouvimos dos adultos: “foi só um pulo, homem não
chora” até as “quedas emocionais” que experimentamos desde a primeira
infância. A maioria dos homens “adultos” tem dificuldade de expor seus
verdadeiros sentimentos ou mostrar-se afetivo consigo mesmo e,
consequentemente com o próximo. Esta dificuldade inicia-se com a
dificuldade que muitos pais têm de abraçar o filho, contribuindo para o
aparecimento do machismo. Quase cem por cento de meus pacientes do sexo
masculino na faixa etária de 25 a 60 anos mostraram dificuldades de
relacionamento afetivo, iniciado na infância com relacionamento paterno
(com ou sem a presença física do pai), desenvolvendo um distúrbio de
personalidade - Alexitimia: dificuldade de descrever suas emoções e
mesmo de senti-las. São homens que desenvolveram o machismo para superar
o seu medo da vida, por terem em sua essência (personalidade) traços
infantis não resolvidos; mas substituído pelo medo, arrogância,
autoritarismo ou vícios. São crianças disfarçadas de adultos.
Tornaram-se autoritários e machistas para “encobrir” suas fraquezas, uma
forma de compensação, formando uma couraça sobre uma personalidade
enfraquecida pelo desamor desenvolvido na infância, que, embora tenha
relação direta com a forma como foram educados, poderia ser trabalhado
no momento atual se isso fosse admitido e não projetado cruelmente nos
pais, nos filhos, esposas, etc. Lembrando que não podemos mudar nossas
experiências passadas; mas podemos mudar nossas atitudes em relação a
elas.
Durante o início do tratamento fica evidente a vergonha que os
homens sentem em descobrir que sente medo de se expor ao
psicólogo/psicoterapeuta, principalmente se o profissional for do sexo
feminino, embora o medo não está exatamente na figura do profissional;
mas em retirar a máscara para si mesmo e ter que abandonar aquele falso
homem que ele mesmo construiu: “um homem forte” ou sair do “Puer
eternus” - a luta do adulto contra o paraíso da infância. Descobrir quem
realmente somos não é uma tarefa das mais fáceis, por este motivo é
comum que os homens busquem disfarces em “fontes” artificiais como fuga
de si mesmo, tais como: álcool, drogas lícitas e ilicítas, sexo
“desregrado” ou algum distúrbio nesse campo, em exigir que sua palavra
seja a última, no isolamento, incluindo o sexual – compulsão pela
masturbação, na insensibilidade disfarçada de vítima, gerando graves
crises depressivas. Negação profunda de seus reais sentimentos.
Outra questão, que só confirma a anterior, é o orgulho em
admitir que, precisa de ajuda ou que possa ser compreendido e ajudado
por uma pessoa mais jovem que ele, muitas vezes. Acredita que as
soluções de seus problemas emocionais só podem ser resolvidas no
concreto, influência de sua constituição genética, ou seja, seus reais
problemas são real (R$). Embora, sabemos que os problemas concretos
(materiais) nascem, em sua maioria, devido a problemas psicoemocionais,
elaborar interiormente a relação do abstrato e do concreto. Tudo que é
construído externamente é primeiro elaborado na alma – somos produtos de
nossos pensamentos.
Como não poderia acontecer de outra maneira, as consequências
do desconhecimento de si mesmo têm levado a graves problemas de toda
ordem: separações conjugais, dispensa do trabalho (falta de criatividade
ou interesse profissional), disfunções sexuais (ejaculação precoce,
impotência e perda do interesse, “homossexualidade”), depressão,
sentimento de posse, alcoolismo, etc.. Outro distúrbio, não muito
comentado, é o ciúme de homens que amam demais, explorada na novela das
oito na Rede Globo, que deu origem à matéria do Popular de 15/07/03 onde
alguns corajosos declararam suas fraquezas, embora o ditado popular
diz: “quem ama tem ciúmes”. Sabemos que o ciúme é uma fraqueza da alma
humana, próprio de pessoas imaturas psiquicamente, que persistem em
acreditar na ilusão da posse daquilo que não pode ser possuído: o
outro.
A Psicologia do homem deveria ser mais explorada, mais
humanizada e menos mistificada. A cura é o resultado do amor. É uma
função do amor. Onde quer que exista amor, existe cura. E onde quer que
não exista amor, tem pouco da preciosa - se houver alguma – cura.
Paradoxalmente, uma psicologia do homem deve ser uma psicologia do
desconhecido. As principais ameaças aos relacionamentos homem/mulher não
mais parecem vir da natureza exterior, mas da nossa própria natureza
interior. Externalizações de nossos conflitos internos projetados no
outro. Enquanto o homem não se conscientizar que dentro dele habita
também uma mulher (ânima e ânimus) e, sua ignorância com as mulheres
“pode” ser o desejo de matar a “mulher interior”; mas, muitas vezes, em
vez de matá-la, coisa impossível, ele faz é acordá-la, pois habita
dentro de cada ‘machão’ uma mulher frágil e carente de amor. Já diz o
adágio popular: “Quem não deve não teme”. Aquele que nega sua “porção”
mulher (ânima) acaba por mostrá-la por inteiro. A resolução desse dilema
é um paradoxo. O caminho do autoconhecimento é um equilíbrio dinâmico
de opostos, uma dolorosa tensão criativa de incertezas, uma difícil
corda bamba entre métodos extremos, porém mais fáceis, de ação.
Considere a criação de uma criança. Tolerar todas as suas indisciplinas
não é amor. Devemos de algum modo, ser ambos: tolerantes e intolerantes,
condescendentes e exigentes, restritos e flexíveis.
Por muito tempo pensei que as pessoas não procuravam
psicoterapia por falta de dinheiro e tempo, hoje tenho certeza que é por
falta de coragem. Mais mulheres procura psicoterapia não porque tem
mais “problemas”; mas porque são, sem dúvida, mais corajosas. Conhecer o
outro requer cumplicidade; mas conhecer a si mesmo requer autopermissão
e muita coragem. Nem sempre o caminho mais fácil é o caminho correto.
Finalmente, acredito ser importante acrescentar que, embora os
homens não confessem, muitos têm se beneficiado, quando tiram a máscara
do machismo, e buscam ajuda a um profissional
(psicólogo/psicoterapeuta) devidamente capacitado – a maioria dos homens
mente ou omite hábitos que são importantes na terapia e cabe ao
profissional buscar a verdade para poder ajudar seu paciente e, juntos,
encontrar o melhor caminho para conduzir sua vida (do paciente).
Lembrando que o Psicoterapeuta e/ou Psicólogo é apenas um facilitador e
jamais pode ser visto como um direcionador ou aquele que resolve os
problemas alheios.
(José Geraldo Rabelo, psicólogo holístico, psicoterapeuta
espiritualista, parapsicólogo, filósofo clínico, especialista em
família, depressão, dependência química e alcoolismo, escritor e
palestrante - Emails.: rabelojosegeraldo@yahoo.com.br e/ou
rabelosterapeuta@hotmail.com)
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